Gringas ricas”: Viagens sexuais de mulheres europeias no Nordeste do Brasil
por SYLVIA ROMANO IN COMENTARIOS A
lAdriana Piscitelli
“Gringas ricas”: Viagens sexuais de mulheres europeias no Nordeste do BrasilAdriana Piscitelli1Universidade Estadual de CampinasRESUMO:Nestetexto,analisoasexperiênciassexuaiseafetivasdeviajantes,prin-cipalmenteeuropeias,emdoislugarestransnacionaisnolitoraldoestadodoCeará, baseando-meemumapesquisaantropológica.Exploroosaspectosenvolvidosnos relacionamentosintensamenteerotizadosqueelasestabelecemcomhomenslocais racializadosesexualizados,percebidoscomocorporificaçãoda“masculinidadebra-sileira”.Analisandocomoasinterseccionalidadespermeiamessesrelacionamentos, meuprincipalargumentoéqueosprivilégiosestruturaisassociadosaoestatuto econômico,racialenacionaldessasmulheressãodesestabilizadosquandoelasse tornammigrantes.Noprocessodeabandonaroestatutodeturistas,afluidezdos intercâmbiossexuaiseeconômicosdesaparece,comparticularcrueldadenocaso dasmulheresmaisvelhas,paraquemareconfiguração doscódigosdegênerodese-quilibraosprivilégiosdequeanteriormentedispunham. PALAVRAS-CHAVE: gênero, interseccionalidades, sexualidade, turismo sexual feminino.Introdução
Chegamos a Jericoacoara quase a meia-noite... Nos indicaram uma lan-chonete. Fernanda, minha assistente de pesquisa, com vinte e poucos anos, estava animada, alegre. E eu, esgotada. Fiz o pedido no balcão e paguei. Em uma mesa ao lado alguns homens nativos nos observavam. Um deles se aproximou e me pediu um cigarro. Estava descalço, vestia
Adriana Piscitelli- 80 -apenas uma calça branca, como de capoeirista, parecia próximo dos 30 anos. Seu corpo era magro, mas muito musculoso. Tinha o cabelo longo, alourado, rastafári e a pele queimada pelo sol. O tipo físico, os olhos um pouco puxados, o rosto arredondado, de “caboclo”, pareciam destoar do penteado. Ele abriu um sorriso para mim e movendo-se com um gingado corporal perguntou se íamos à disco. Devolvi o sorriso dizendo que não nessa noite, pois acabávamos de chegar. Ele me deu um beliscão suave no braço, passando a mão nele, quase uma carícia. Fiz um esfor-ço para manter meu sorriso inalterado, imaginando que era um “caça-gringas”, talvez um potencial entrevistado. Nem olhou para a Fernanda, que é novinha. Centrou toda sua atenção em mim, bem mais velha e cansada, mas estrangeira. Ele foi embora, mantendo o gingado ao andar. Co mentei o episódio com Fernanda, dizendo que a atenção talvez se de-vesse ao fato de eu estar na idade “certa”, associada ao meu sotaque. Ela me chamou a atenção para o fato de que também paguei a conta, sendo evidentemente eu quem tinha dinheiro.Diário de campo, Jericoacoara, novembro de 2008Esse trecho de diário de campo remete às interações entre mulheres es-trangeiras e homens nativos em um lugar turístico do Nordeste do Brasil. Neste artigo2analiso essas interações considerando os relacionamentos sexuais e amorosos que têm lugar em duas cidades do litoral do estado do Ceará: Canoa Quebrada e Jericoacoara. Nos dois lugares é frequente observar casais formados por mulheres estrangeiras, de diferentes idades, e jovens nativos. Esses relacionamentos, marcados por desigualdades produzidas no en-trelaçamento de diferenças de nacionalidade, cla sse social, gênero e “raça” frequentemente envolvem intercâmbios sexuais e econômicos. Ao com-binar esses aspectos, eles remetem a um dos temas mais pesquisados em
Revista de Antropologia
:Nestetexto,analisoasexperiênciassexuaiseafetivasdeviajantes,prin-cipalmenteeuropeias,emdoislugarestransnacionaisnolitoraldoestadodoCeará, baseando-meemumapesquisaantropológica.Exploroosaspectosenvolvidosnos relacionamentosintensamenteerotizadosqueelasestabelecemcomhomenslocais racializadosesexualizados,percebidoscomocorporificaçãoda“masculinidadebra-sileira”.Analisandocomoasinterseccionalidadespermeiamessesrelacionamentos, meuprincipalargumentoéqueosprivilégiosestruturaisassociadosaoestatuto econômico,racialenacionaldessasmulheressãodesestabilizadosquandoelasse tornammigrantes.Noprocessodeabandonaroestatutodeturistas,afluidezdos intercâmbiossexuaiseeconômicosdesaparece,comparticularcrueldadenocaso dasmulheresmaisvelhas,paraquemareconfiguraçãodoscódigosdegênerodese-quilibraosprivilégiosdequeanteriormentedispunham. PALAVRAS-CHAVE: gênero, interseccionalidades, s exualidade, turismo sexual feminino.IntroduçãoChegamos a Jericoacoara quase a meia-noite... Nos indicaram uma lan-chonete. Fernanda, minha assistente de pesquisa, com vinte e poucos anos, estava animada, alegre. E eu, esgotada. Fiz o pedido no balcão e paguei. Em uma mesa ao lado alguns homens nativos nos observavam. Um deles se aproximou e me pediu um cigarro. Estava descalço, vestia
Adriana Piscitelli- 80 -apenas uma calça branca, como de capoeirista, parecia próximo dos 30 anos. Seu corpo era magro, mas muito musculoso. Tinha o cabelo longo, alourado, rastafári e a pele queimada pelo sol. O tipo físico, os olhos um pouco puxados, o rosto arredondado, de “caboclo”, pareciam destoar do penteado. Ele abriu um sorriso para mim e movendo-se com um gingado corporal perguntou se íamos à disco. Devolvi o sorriso dizendo que não nessa noite, pois acabávamos de chegar. Ele me deu um beliscão suave no braço, passando a mão nele, quase uma carícia. Fiz um esfor-ço para manter meu sorriso inalterado, imaginando que era um “caça-gringas”, talvez um potencial entrevistado. Nem olhou para a Fernanda, que é novinha. Centrou toda sua atenção em mim, bem mais velha e cansada, mas estrangeira. Ele foi embora, mantendo o gingado ao andar. Co mentei o episódio com Fernanda, dizendo que a atenção talvez se de-vesse ao fato de eu estar na idade “certa”, associada ao meu sotaque. Ela me chamou a atenção para o fato de que também paguei a conta, sendo evidentemente eu quem tinha dinheiro.Diário de campo, Jericoacoara, novembro de 2008Esse trecho de diário de campo remete às interações entre mulheres es-trangeiras e homens nativos em um lugar turístico do Nordeste do Brasil. Neste artigo2analiso essas interações considerando os relacionamentos sexuais e amorosos que têm lugar em duas cidades do litoral do estado do Ceará: Canoa Quebrada e Jericoacoara. Nos dois lugares é frequente observar casais formados por mulheres estrangeiras, de diferentes idades, e jovens nativos. Esses relacionamentos, marcados por desigualdades produzidas no en-trelaçamento de diferenças de nacionalidade, cla sse social, gênero e “raça” frequentemente envolvem intercâmbios sexuais e econômicos. Ao com-binar esses aspectos, eles remetem a um dos temas mais pesquisados em
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 81 -termos das relações entre sexualidade e turismo internacional em regiões pobres do mundo e em torno do qual se criou um campo de estudos marcado pelo dissenso, o “turismo sexual”.3As divergências sobre a pro-blemática se acentuam quando se trata de viagens de mulheres de países do Norte a regiões pobres do mundo. As pesquisas sobre essa problemática mostram quatro posições cen-trais. Na primeira, considera-se que as viajantes de países “ricos” tiram partido dos privilégios conferidos pela articulação entre nacionalidade, classe social e raça para consumir sexo, permeado por fantasias racializa-das do exotismo, oferecido por homens de lugares pobres (Kempadoo, 2001; O’Connell Davidson, 1999). No marco dessas interseções, as tu-ristas de países ricos s& atilde;o consideradas, de maneira análoga aos homens desses países, turistas sexuais que objetificam e exploram sexualmente os homens locais porque utilizam seus privilégios para obter vantagens se-xuais (Sanchez Taylor, 2006).Nasegundaposição,avalia-sequeasconfiguraçõesdegênerotêmoefei-todenuançaressesaspectos.Oscódigos“Ocidentais”degênerofazem comqueasmulheresprocuremromanceerelacionamentosduradourose, comoviajantes,busquemumcontatomaispróximocomaculturanativa, interessadasemenriqueceraexperiênciadeviagematravésdaaproximação comela.Essasmulheresseenvolvememviagensde“turismoàprocurade romance”,cujaparticularidadeéqueosprivilégiosdessasmulhereslhes permitemoensaiodenovospapéis,emrelacionamentosquepossibilitama assertividadeeocontrolefemininos(PruitteLafon,1995). Essas duas posições, embora divergentes, ch amam a atenção para as ambiguidades presentes em relacionamentos nos quais as mulheres pre-ferem apagar ou ignorar os intercâmbios econômicos neles presentes, um aspecto presente também na terceira posição, que se desloca da oposição entre “turismo sexual” e “turismo romance”. Enfatizando a diversidade de
Adriana Piscitelli- 82 -relacionamentos entre estrangeiras de países ricos e homens de regiões po-bres, essa posição observa que o foco dos relacionamentos pode estar no sexo, no romance, em uma combinação de ambos ou, ainda, na procura de companheirismo (Herold, Garcia e DeMoya, 2001). Essas abordagens não negam os imaginários racializados e as vantagens estruturais dessas viajantes, mas sublinham a fluidez presente em relacionamentos nos quais desejo e controle são permanentemente negociados, no espaço da intimi-dade (Frohlick, 2007). Finalmente, a quarta posição se diferencia das anteriores, porque con-sidera que as desigualdades de gênero são englobantes. A ideia é que as configurações de gênero situam as mulheres, apesar de seus privilégios estruturais, necessariamente em posições subordinadas (Jeffreys, 2003). Neste texto dialogo com e ssas discussões tomando como referência as experiências sexuais e emocionais de mulheres heterossexuais, predomi-nantemente europeias. Presto particular atenção às relações entre noções de viagem, liberdade, escolha e prazer sensual que, em suas percepções, tornam os lugares visitados verdadeiros “paraísos”. A escolha de homens locais como parceiros sexuais e amorosos, permeada por noções racia-lizadas e sexualizadas de etnicidade/nacionalidade, está associada a esse conjunto de conceitualizações. Meu principal argumento é que a atração exercida por essas mulheres nesses lugares, vinculada à sua posição privi-legiada, produto do entrelaçamento entre classe, “raça” e nacionalidade, se vê profundamente alterada quando elas abandonam o status de turistas e passam a residir nas co munidades como mulheres “de fora”.4Nas primeiras partes do artigo descrevo os cenários nos quais foi rea-lizada a pesquisa e as interações entre viajantes estrangeiras e homens na-tivos. Analiso depois as experiências sexuais e amorosas das entrevistadas. Finalmente, traço um contraponto entre esses relacionamentos e as dis-cussões sobre “turismo sexual” feminino, considerando como as interse-
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 83 -ções entre diferenciações operam no processo mediante o qual as viajantes estrangeiras se tornam residentes nos locais contemplados. MétodosA pesquisa, realizada em uma abordagem antropológica, teve lugar em diferentes momentos, entre 2000 e 2008 e é parte de um estudo mais amplo sobre os impactos do turismo internacional nas escolhas sexuais e afetivas da população nativa do Estado de Ceará (Piscitelli, 2007; 2004).5Nesteartigo,centro-menosrelatosde19mulheresestrangeirasque mantiveramrelacionamentossexuaiseafetivoscomhomenslocais.São mulheresconsideradasbrancas,comidadesentreos20eos60anos.Entre elas,16sãoouforamresidentesemCanoaQuebradaou,sobretudo,em Jericoacoara,ondeconcentreiaobservaçãoepermaneceramnesseslugares porperíodosquevariamentre2mesese16anos.Asrestantessãoturistas passandoapenasdi asousemanasemumadasduasvilas.Duasentrevista-dassãolatino-americanaseasdemaissedividementreitalianas(5);alemãs (3);suíças(3);espanholas(2);francesas(2)eholandesas(2).Algumastêm educaçãosuperior(6),masamaioriacompletouoensinomédioedesem-penhavanaEuropaocupaçõesnosetordocomérciooudeserviçoscom saláriosmédiosoubaixos.Trabalhavamcomoprofessoras,maquiadoras,se-cretárias,emcooperativas,comovendedorasemlojasderoupas,nosetorde turismooucomoinstrutorasdeesportes.Aoinstalar-senoBrasil,amaio-riasededicouaempreendimentosturísticos,montandoouadministrando pousadas,restaurantesebares.PoucastiveramfilhosnoBrasile,entreas maisvelhas,foramfrequentesosrelacionamentoscomhomensentre5e20 anosmaisnovos.TodasasqueseestabeleceramnoBrasilfizeramesforços paraadquirirnoexteriorocapitalnecessárioparainiciarseusempreendi-mentosnoBrasil,inclusivevendendoseusbensnoexterior.
Adriana Piscitelli- 84 -A maior parte das entrevistas foi realizada em português, e as demais em inglês e espanhol. É importante observar que, embora seja latino-americana, não sou brasileira. Minha condição de estrangeira marcou vá-rias das interações e diálogos. CenáriosNo estado do Ceará, ainda são escassas as turistas estrangeiras que viajam sós ou sem companhia masculina. A presença de estrangeiras, particu-larmente daquelas à procura de encontros sexuais com homens nativos, porém, é recorrente nas narrativas sobre “Jeri”, denominação que local-mente recebe Jericoacoara, e também sobre Canoa Quebrada. Esses re-lacionamentos devem ser situados no âmbito das alterações nas relações sociais vinculadas ao veloz e intenso desenvolvimento do turismo. Nesse sentido, é importante ter em conta os efeitos do processo de comerciali-zação das relações sociais e da transnacionalização por ele promovidos nos códigos locais de gênero e sexualidade. Os dois lugares, Canoa, no litoral nordeste e Jeri, no litoral oeste do Ceará, compartilham alguns aspectos. Em um passado recente, foram vi-las isoladas, de difícil acesso, cujas principais atividades econômicas eram a pesca, a criação de pequenos animais e, no caso de Canoa, também o artesanato, a produção de rendas. Nos relatos de nativos e residentes, em Jeri, duas décadas atrás, a economia ainda operava na base da troca. As duas vilas foram “descobertas” por turistas “alternativos” que passaram a hospedar-se nas casas dos habitantes locais. Em um processo que rapidamente as levou a serem integradas nos circuitos turísticos organizados, passaram a ocupar a lista dos principais lugares procurados pelos turistas no estado, fora do litoral de Fortaleza (Molina, 2007). Durante esse processo, parte significativa das ativida-
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 85 -des econômicas tradicionais foi abandonada e substituída pelos serviços voltados para o turismo. As pessoas locais se integraram no mercado de trabalho informal ou formal de serviços turísticos, em situações frequen-temente pouco igualitárias em relação a pessoas “de fora”. E, nos dois lugares, houve relevantes alterações na ocupação do espaço e na produção de desigualdades nas comunidades. Os relatos sobre o passado recente dessas vilas assinalam a existência de distinções sociais anteriores ao turismo, mas mostram a percepção de que ele contribuiu para intensificar a distância social entre a população nativa, marcando a diferença entre os que enriqueceram por meio dos empreen-dimentos turísticos e aqueles q ue se tornaram mão de obra. As narrativas também aludem, como em outras vilas de pescadores do nordeste que se tornaram lugares turísticos, à rápida comercialização das relações sociais (Robben, 1982), no sentido em que passaram a ser vendidas práticas que, no passado, eram realizadas em benefício de outras pessoas, como parte da inserção em circuitos de reciprocidade. Nos dois lugares, os estrangeiros fizeram parte dos primeiros hóspedes “de fora”. Ao longo do processo de intensificação do turismo, os dois lugares atraíram proporcionalmente mais estrangeiros que outras partes do estado (Molina, 2007). Muitos passaram a ser residentes, tornando-se proprietários de empreendimentos turísticos. Os “nativos mesmo”, nasci-dos nas vilas, convivem continuamente com os estrangeiros que, residen-tes ou turistas, fazem parte do seu mundo do trabalho, como patrões ou clientes, e também das atividades de lazer e da sociabilidade. No processo de intensificação do turismo, as antigas vilas de pescadores se tornaram espaços transnacionais. Uma série de laços sociais e econômicos, criados a partir dos investimentos e da migração de estrangeiros envolvidos em empreendimentos turísticos e, às vezes, relações matrimoniais e de paren-tesco, as conectam com diversos países.
Adriana Piscitelli- 86 -Canoa e Jeri, porém, atraem estilos de turismo distintos. A “desco-berta” turística de Canoa, que remete ao final da década de 1960, foi anterior a de Jeri. De acordo com Dantas (2003), nas décadas de 1970 e 1980, o lugar se tornou internacionalmente conhecido pela liberdade em uma diversidade de práticas, incluindo o consumo de drogas, a prática do nudismo e os relacionamentos sexuais. A partir da década de 1980, houve um aumento significativo do turismo e um crescimento veloz e de-sorganizado do lugar. Canoa passou a ser considerada um lugar de elevada incidência de Aids e, a partir de finais da década de 1990 de “turismo sexual” internacional. Na metade da década de 2000, a população estável tinha aumentado. Nos circuitos de turismo alternativo se considerava que tinha “acabado”, perdido a “magia”. O lugar, porém, integrado nos cir-cuitos turísticos organizados que partem de Fortaleza, passou a viver uma nova intensificação do turismo. Hoje ele recebe visitantes com diferentes capacidades de consumo. Nessa heterogeneidade, ainda persistem os es-trangeiros que procuram beleza natural e algo de “primitivismo”. Jeri, com pouco mais da metade de população estável que Canoa, foi “descoberta” um pouco mais tarde. No início da década de 1980, o turis-mo era basicamente “alternativo”. A energia elétrica só chegou ao lugar no final da década de 1990, quase paralelamente aos investimentos turísticos voltados para os esportes náuticos. O lugar entrou no roteiro internacio-nal “dos ventos”, no circuito de windsurfe e kitesurf, esportes custosos que contribuíram para atrair um tipo de turismo estrangeiro com maior poder aquisitivo. O “clima” de Jeri hoje é cosmopolita, criado pela in-tensa circulação de pessoas de diferentes nacionalidades, os restaurantes com comida de diversas partes do mundo e os cyber-cafés. Muitas pessoas nativas falam duas ou mais línguas e várias têm viajado ao exterior através dos contatos viabilizados pelos esportes náuticos e dos relacionamentos com estrangeiros/as.
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 87 -Nesse processo, o crescimento do lugar foi relativamente mais organi-zado do que em Canoa. Jeri é um lugar de ruas de areia, que apresenta um ar cuidado, com construções em um estilo predominantemente rústico-chique. As pousadas que estão na praia são sofisticadas e caras. O estilo das construções, os fios elétricos subterrâneos, as lojas e os restaurantes requintados e a intensa circulação de estrangeiros imprimem em boa par-te do lugar o ar de um resortinternacional e algo de artificialidade. Essas impressões foram registradas no diário de campo:Nestaépocadoano,compoucosturistasbrasileiros,impressionaa quantidadedeestrangeiros,homensemulheres.Hánórdicos,louros, altos,depernascompridas.Háestrangeirostambémtrabalhandonas pousadaserestaurantes...Osnativospobresestãoqu asesegregados, afastados,naNovaJeri.Atravessandoaruadoforró,nofinaldetar-de,vejoumacasademoradorcomluzacesa.Emboradigna,acasa épobre.Nãoháquasenadadentro:umsofá,umarede.Naporta conversamsenhorascomaspectosimples,batasdealgodão,coques grisalhos,peleenrugadaequeimadapelosol.Amisturaentreesse tipodecasas,pousadasebaresécomumnasruelasdeCanoa.Mas, emJeri,aluzacessadessaúnicacasinha,umalâmpadapendurando deumfio,nomeiodepousadaserestaurantes“chiques”,pareceilu-minaraartificialidadedetodooresto.Diário de Campo, novembro de 2008Os escassos estudos sobre Jeri apontam para os problemas sociais acar-retados pelo turismo: especulação imobiliária, perda de identidade da po-pulação local em função da invasão de turistas, tensões entre nativos e “adventícios” (Fontenles, 1998), difusão do uso de drogas, principalmen-te o crack, e, embora não seja considerado um lugar de “turismo sexual”
Adriana Piscitelli- 88 -como Canoa, o aparecimento de uma prostituição ainda “não explícita” (Molina, 2007). A percepção desses problemas faz com que alguns residentes “de fora” lembrem com nostalgia o passado recente. Eles sentem falta da vida co-munitária, da natureza quase intacta, do ritmo de vida em harmonia com o ciclo cotidiano do dia e da noite. Essa visão nostálgica, porém, não é unívoca. Muitos residentes percebem as mudanças atribuídas ao turismo como positivas. Parte da população local considera a época na qual a sub-sistência dependia da pesca como um período difícil, de trabalho pesado e penúria econômica. Os mais jovens valorizam o turismo, considerado fonte de oportunidades econômicas, e as vinculações com o exterior por ele viabilizadas e sentem orgulho de viver em lu gares que, em suas percep-ções, são “uma esquina do mundo”. Nessas leituras, o turismo é visto como fonte de oportunidades eco-nômicas com efeitos benéficos em termos do aumento no grau de es-colaridade e na qualificação da população nativa e também no que se refere a transformações nos códigos de gênero e sexualidade. Os aspectos mais destacados são o relativo aumento no igualitarismo nas relações en-tre homens e mulheres, a menor visibilidade da violência doméstica e o aumento da idade em que as jovens engravidam, em relação às gerações anteriores. O relato de um proprietário de pousada de Jeri, no qual o sis-tema de emprego gerado pelo turismo opera à maneira de controle social sobre a violência contra as mulheres, dá um exemplo dessas percepções:No passado, aqui, as mulheres apanhavam dos maridos... Quando co-meçou o turismo internacional... a patroa sabia que o homem bate na mulher, então dispensava ele. E eles começaram a perceber que tinha uma sociedade que cobrava isso deles. Hoje você é raro ver uma mu-lher apanhar... As pessoas aqui sempre transaram cedo. As mães dessas Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 103 -procedimentos utilizados é traduzir as desigualdades como “diferenças culturais”. Nos termos de uma italiana, relatando o relacionamento com um homem local: “A diferença cultural era grande, grande, porque é uma pessoa daqui, né? Mal sabe ler, mal sabe escrever, né? Nasceu num lugar assim bem pobre”. Outro desses procedimentos é considerar o investi-mento de recursos materiais e simbólicos na promoção dos parceiros ou nos negócios do casal com o “ajuda”. Essa noção envolve o pagamento das viagens dos namorados a Europa para que as visitem e conheçam suas famílias; a organização de suas tournées no exterior, procurando patroci-nadores; hospedá-los, vesti-los, alimentá-los e lutar para obter para eles vistos de residência e trabalho. Quando elas se instalam em Jeri, a ideia de “ajuda” envolve a compra de propriedades, de bens como buggies ou motocicletas e a montagem de empreendimentos turísticos. De acordo com uma italiana de 60 anos elegante, sofisticada e muito articulada, proprietária de pousada, lembrando seu tumultuado e sofrido relaciona-mento com um artista local: Eu ralei na Itália para poder comprar aqui. Era 92... Economizava o má-ximo para juntar dinheiro para investir em Jeri. Quando conheci ele, eu estava com 44 anos. Ele era 11 anos mais novo. Ajudei ele muito. Vendi os quadros dele na It&a acute;lia. Por três vezes abri um barzinho para ele. Ele muito envolvido com drogas fazia dívidas. O meu, era um amor angéli-co, aquele de ficar dando sem esperar nada de volta. Nas narrativas das mulheres mais jovens, as desigualdades nos posicio-namentos sociais em relação aos parceiros e os intercâmbios econômicos são apagados pela ideia de um intenso amor que converte assimetrias em complementaridade. Esses relatos de namoros duradouros e de casamen-tos recentes aproximam à ideia de aliança, no sentido em que eles intro-
Adriana Piscitelli- 104 -duzem cada integrante do casal na rede de parentesco e relacionamentos do outro integrante. As histórias dessas jovens apaixonadas remetem a relacionamentos nos quais a combinação entre seus privilégios estrutu-rais, o fato de que elas ainda mantêm fortes laços sociais no exterior, se deslocam com facilidade e estabelecem laços com as redes de parentesco e de relacionamento locais possibilitam que elas enfrentem os aspectos que percebem como desagradáveis do “machismo”. Essas mulheres con-sideram ter tido sucesso na tentativa de estabelecer relações igualitárias com os parceiros brasileiros, no âmbito doméstico, reeducando homens acostumados pelas mães e irmãs a serem servidos e também no âmbito laboral, fazendo que eles compartilhem diferentes aspectos do trabalho realizado no lugar. Nos termos de uma espanhola de 24 anos:Se han aco stumbrado a que la mujer le haga todo. Aparte de que ella trabaje, ella lava la ropa, le cocina, le sirve el plato en la mesa, le quita el plato de la mesa ¿entiendes? Se acostumbran así en casa... y yo... dije basta. Si no te vas con tu madre y con tu hermana, pero conmigo no. Porque a mí también me gusta que me sirvan el plato en la mesa, o sea por igual. Eso está solucionado, pero son muy machistas... Es que es la vida de aquí. Todavía están un poco en otra época. As narrativas das entrevistadas mais velhas delineiam um quadro di-ferente, dramático, no qual o intercâmbio econômico envolvido nos re-lacionamentos que tiveram com os homens locais é evidente para elas. Essas mulheres não se integraram nas redes de parentesco e sociabilidade dos parceiros locais, ao contrário, em alguns casos foram deliberadamente distanciadas delas. Nem sequer o nascimento dos filhos que tiveram com os parceiros nativos parece ter a potencialidade de “criar” parentesco, no sentido de estabelecer relações entre consanguíneos e afins. E os relatos
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 105 -dessas mulheres, que namoraram ou casaram com homens entre 10 a 15 anos mais novos, aludem a exploração econômica e a experiências de violência, física ou simbólica. Essas narrativas remetem a um processo no qual os estilos de mascu-linidade dos homens locais operaram como bem erótico no qual se con-centraram os desejos dessas mulheres. Os homens, porém, se deslocaram do lugar de serem “consumidos” para o da dominação. Nesse movimento, elas foram posicionadas em situações de extrema desigualdade, apesar de seus privilégios estruturais. Nesses relatos, após terem se instalado em Jeri, elas descobriram que os parceiros lucraram, enganando-as, no processo de compra de terrenos e buggies, construção de casas e pousadas. Além disso, enfrentaram sozinhas a carga de trabalho d os empreendimentos turísticos, sustentando os parceiros brasileiros, seu consumo de álcool e, às vezes, de drogas e, alguma, também os filhos que tiveram com eles. Elas relacionam a exploração econômica da qual foram objeto ao pro-cesso mais amplo de mercantilização das relações sociais na comunida-de, que afeta principalmente às mulheres estrangeiras que deixam de ser turistas. No relato de uma italiana de 54 anos, miúda, loura, de olhos verdes, corpo bem torneado e estilo juvenil, também proprietária de pou-sada, que teve dois filhos em Jeri: Não sabia falar português, fiquei logo grávida num lugar como Jeri, complicado pra qualquer coisa, com estas pessoas meio machistas que tentavam de qualquer maneira me isolar do resto da comunidade. Pas-sei bastante tempo sem ter muitos contatos com as outras pessoas. Ele sempre se punha no meio querendo assim ser o &uac ute;nico [contato com] o exterior. Criou toda uma situação de isolamento... [Ele] chegava em casa, quebrava tudo. Uma vez me fechou dentro do quarto, pegou todas as chaves dos quartos e jogou fora. Outra vez chegou querendo me ba-
Adriana Piscitelli- 106 -ter... Ele virou uma coisa muito violenta. Um amigo de infância da Itália chegou pra cá, ele ficou assustado com o que viu. Daí ele ligou pro meu pai e minha mãe quando voltou pra Itália e falou que praticamente eu estava aqui refém daquela pessoa... Daí meu pai e minha mãe chegaram aqui, ficaram aqui 6 meses. Até conseguir ele sair daqui... Nesse processo, códigos de gênero assimétricos parecem englobá-las com uma crueldade associada ao fato delas serem “gringas “ricas” e sem inserção nas redes sociais locais. Algumas atribuem essa crueldade tam-bém à disparidade de idade com os namorados/maridos. Uma francesa de 49 anos, instrutora de esqui na Europa e velejadora, que namorou um homem local 10 anos mais novo, lamentando o dinheiro e a dignidade perdidos nos anos que passou em Jeri, exemplifica essa percepç&atil de;o: Comprei a casa muito rápido, conheci ele, e queria lhe ajudar. Ele era gentil, mas mentia muito, havia coisas que eu não sabia... Como ele não tinha muito trabalho, comprei um buggy para ele, mas disse que não era presente. Tem que trabalhar para pagar esse buggy com o seu trabalho... Jamais tinha dinheiro para a gasolina, para consertar, eu que paguei. Ele trabalhava dois dias na semana e não tinha dinheiro, gastava tudo em droga, roubava minha casa, meu dinheiro... Perdeu o buggy, foi atrás de mim, queria que comprasse uma moto... Como se eu na França colhesse o dinheiro em árvores. Depois de 2 meses, me disse que era drogado, e que queria fazer uma cura, se eu podia ajudar. E o ajudei... Agora estou triste por tudo o que aconteceu... Porque fui estúpida, perdi dinheiro, tempo, sinto vergonha. Na França não aconteceria isso comigo, porque só vou com pessoas como eu socialmente... Aqui o lugar mudou [de modo] radical, com o turismo. Eles [os nativos] dizem: tem que pagar... Como sou uma gringa, todo mundo acha que tenho que pagar... E não
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 107 -faz diferença que tenha muito tempo aqui, gringa, gringa! Eles pensam em sua cabeça estúpida... Esta é uma gringa rica. E só fazem o negócio para o momento, não para o futuro... É muito horrível... Jeri era o para-íso, agora é um inferno. Quando as pessoas só te procuram para te fazer pagar... Eu me perguntava se ele me amava, se ele queria aproveitar de mim. Como estou mais velha, eu não sei, ele podia pensar na sua cabeça que por isso não me amava.10O peso da idade nessas interações não é fácil de avaliar. A juventude feminina é valorizada nas relações entre nativos/as, mas as narrativas lo-cais também remetem a diversos relacionamentos nos quais as mulheres são mais velhas e, no entanto, não são objeto de hostilid ade por parte da comunidade, nem de violência por parte dos parceiros. No âmbito das alterações nos códigos de gênero que têm lugar na particular imbricação entre “local” e “global” que permeia os relacionamentos entre nativos e estrangeiras, porém, as mulheres mais velhas aparecem como particular alvo de hostilidade. Nesse processo, que não pode ser pensando como mera reiteração de códigos locais de masculinidade, o valor positivo con-cedido à “branquidão”, como expressão de liberdade de deslocamentos e de poder econômico associados às nacionalidades dos países do Norte, é neutralizado. E a combinação entre a precariedade dos laços sociais no lugar e a erotização desses relacionamentos contribui para aprisioná-las durante anos nessa dinâmica. Nos termos dessa francesa: “Ele me enga-nou... me roubou... [mas] eu ainda gostava dele, estava apaixonada”. Intercâmbios fluidos? Revisitar as discussões sobre “turismo sexual feminino” considerando as experiências das mulheres entrevistadas conduz a questionar a insistên-
Adriana Piscitelli- 108 -cia em delinear tipologias de viagens sexuais. Essas narrativas permitem perceber que prestar séria atenção ao contexto no qual esses encontros se-xuais têm lugar, aos diferentes momentos dos relacionamentos e do pro-cesso de inserção das estrangeiras nos lugares turísticos é mais fértil, em termos analíticos, que as tentativas de classificar esses encontros. Nestescenários,osrelatosdessasmulheresembaralhamastipologias existentes.Elascombinamaspectossupostamentecaracterísticosdo“turis-mosexualfeminino”,comofantasiassexualizadaseracializadasdoshomens locais,comoutrostidoscomomarcantesdo“turismoromance”,comoa forteênfasenoamor/paixãoeapercepçãodessesrelacionamentoscomo aspectocrucialdaimersãoem“outra”cultura.E,seosrelatosdessasestran-geirasremetemaoensaioderepertóriospoucotradicionaisdegênero,em te rmosdeseusestilosdeviajar,daopçãopornamoraroucasarinterrom-pendonormassociaishomogâmicasehomocromâticas/“homoétnicas”e tambémdotipodemigração,ossupostosintercâmbiosfluidosnosquais asmulheresfazemusodeseusprivilégiosestruturaisparanegociardesejoe controlenoâmbitodaintimidade,sevêemseveramentelimitados Nesseslugaresturísticos,nosquaisseforjamnovoscritériosestéticosrela-tivosàcorporalidade,novassubjetividadeseróticasenovosestilosde“intimi-dadestransnacionais”,essafluidezsedesvanecequandoasmulheresdeixam deserturistasparatornarem-seresidentes.Nesseprocesso,asvisõesdo“pa-raíso”dãolugarapercepçõesdo“inferno”,comparticularcrueldadequando setratadasestrangeirasmaisvelhas,emumadinâmicanaqualreconfigura-çõesdosestilosdemasculinidadelocaisdesestabilizamosprivilégiosdessas v iajantes.Nessemomento,asambivalênciasqueconduzemasentrevistadas aconcederaosintercâmbioseconômicospresentesnessesrelacionamentosa conotaçãode“ajuda”desaparecem:elespassamaservistoscomoexploração.Isto não significa, porém, que as desigualdades de gênero sejam sem-pre e necessariamente englobantes. As vantagens estruturais que possi-
Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2010, v. 53 nº 1.- 109 -bilitam que essas mulheres viajem e contribuem para torná-las atraentes nesses lugares são preponderantes em uma fase dos relacionamentos. No que se refere às estrangeiras mais velhas, nas fases seguintes, o persistente jogo de negociação é desequilibrado. Nos relatos, nesses momentos, essas vantagens são neutralizadas e essas mulheres aparecem como dominadas pelos parceiros. E, nesse ponto, há uma significativa diferença entre esses relacionamentos e aqueles que envolvem homens brancos europeus e mu-lheres nativas no Ceará (Piscitelli, 2004). Nesses últimos, os privilégios estruturais nunca são desestabilizados.No embate entre os privilégios conferidos por classe social, “cor” e nacionalidade às européias e o lugar ocupado pelos parceiros, valoriza-dos na intimidade mediante uma intensa erotização à qual se adiciona o poder que lhes confere serem homens “da terra” em lugares onde elas têm escassas redes sociais, elas saem desses relacionamentos “roubadas”, humilhadas e magoadas. A dominação que afeta essas europeias, porém, é temporária. Essas mulheres continuam posicionadas como brancas/eu-ropeias e, na maioria das vezes, são as proprietárias dos empreendimentos turísticos. Algumas desistem da ideia de permanecer residindo no lugar, mas outras continuam neles, procurando uma melhor inserção nas re-des sociais. E, desde essa posição, elas estabelecem novos relacionamentos com outros homens locais. Notas1 Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero PAGU/ Unicamp e professora no doutorado em Ciências Sociais, da mesma universidade. 2 O texto está baseado em resultados de pesquisa do projeto tem& aacute;tico “Gênero, Corporalida-des”, coordenado pela Profa Mariza Corrêa. A pesquisa de campo realizada em Jericoacoara contou com a colaboração de Fernanda Leão Antonioli. 3 As divergências sobre essa problemática abrangem diversos aspectos, envolvendo princi-
Adriana Piscitelli- 110 -palmente os limites dessa noção, inicialmente formulada para analisar o turismo massivo à procura de sexo no Sudeste da Ásia, e as percepções sobre como operam as distribuições dife-renciadas de poder e as dinâmicas de gênero nos relacionamentos entre visitantes e nativas/os (Truong, 1990; Opperman, 1999; Piscitelli, 2007; Fosado, 2004; Cabezas 2009). 4 Este ponto não foi ignorado na produção sócioantropológica sobre a problemática, mas ainda não tem sido analisada. Ver Sanchez Taylor (2001) e Frohlick (2007). 5 O estudo foi desenvolvido durante 18 meses, durante várias “altas temporadas”. O “campo” envolveu um intenso trabalho etnográfico, combinando observações, conversações não estru-turadas e a realização de entrevistas em profundidade com 94 pessoas, inc luindo homens e mulheres estrangeiros/as e homens e mulheres nativos/as envolvidos/as em relacionamentos transnacionais e agentes vinculados pelo seu trabalho ao turismo e à prostituição no Estado do Ceará. A maioria das entrevistas foi registrada com gravador, além disso, nos diários de campo foram registradas as observações e as conversações informais e observações.6 Entrevista realizada em novembro de 2008.7 Entrevista realizada por Fernanda Leão Antonioli, novembro de 2008.8 Entrevista realizada em Fortaleza, em 2002.9 Nos estudos sobre a problemática realizados no Brasil, as dinâmicas de interação entre estrangeiras e homens nativos está começando a ser contemplada em locais de ecoturismo e também em locais de praia, considerando os “caça-gringas” e a sexualização dos corpos mas-culinos negr os, no Nordeste. Vale observar que em Jeri e Canoa o termo “caça-gringas” não faz parte do vocabulário local. Apenas em uma ocasião foi registrada outra expressão, neutra em termos de gênero, aludindo às relações com estrangeiros: “papadólar”. Ver: Antonioli, 2008; Cantalice, 2009 e Lorraine, 2009. 10 Entrevista realizada por Fernanda Leão Antonioli, Jericoacoara, novembro de 2008. BibliografiaANTONIOLI, Fernanda Leão. 2008 Estrangeiras no Brasil: gênero no marco do turismo internacional. Relatório Final de projeto de iniciação científica (processo Fapesp 06/51964-6), vinculado ao projeto temático Gênero, corporalidades.
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